Resiliência climática: um investimento e não um custo
A decisão de Campinas de se colocar na frente para enfrentar seu risco climático resultou na redução do número de zonas em risco de inundações e deslizamentos de terra de 75 para 30 - um decréscimo de 64%.
Tempestades severas e as inundações associadas em 2003, levaram a cidade brasileira a transformar sua abordagem e fortalecer drasticamente sua governança climática e de risco de desastres. Em uma era de aumento do risco climático, a cidade está convencida de que priorizar a resiliência é um investimento e não um custo para seus cidadãos. O desastre de 2003 expôs lacunas na gestão do risco de desastres municipais. Ele destacou a necessidade de uma abordagem geral de resiliência urbana e anunciou uma mudança profunda na visão estratégica da cidade. Nos últimos quase 20 anos, Campinas reduziu drasticamente as fatalidades resultantes do clima extremo e reduziu o número de pessoas afetadas por tais eventos.
A transformação ocorreu em duas frentes. Primeiro, Campinas institucionalizou a agenda da resiliência e suas prioridades através de decretos municipais e outras legislações. Isto estabeleceu estruturas participativas de governança de risco e incorporou a resiliência como uma prioridade a longo prazo que sobreviveria a mudanças na liderança política local. Em segundo lugar, a cidade fez da resiliência uma agenda transversal aos vários setores municipais comprometidos com a gestão de riscos. Isto fortaleceu a integração das capacidades e recursos locais no planejamento e ação geral de desenvolvimento, permitindo que os serviços públicos continuassem em sua maioria durante os períodos de interrupção. Em uma série de movimentos pioneiros, Campinas tornou-se a primeira cidade brasileira a estabelecer um Comitê de Cidade Resiliente relacionado à Campanha do UNDRR de “Construindo Cidades Resilientes” em 2013. O Comitê coordena ações multisetoriais e aloca recursos para iniciativas, tais como a renovação de moradias e planos de realocação para populações que vivem em áreas de risco.
Quatro anos depois, Campinas tornou-se a primeira cidade do país a desenvolver um Plano de Resiliência Local com o apoio técnico do UNDRR construído sobre um amplo engajamento multi-setorial que integrou várias aprendizagens políticas. Estes passos deram à cidade uma base de apoio político forte e uma visão estratégica clara para aumentar sua ambição e ação de resiliência climática. Campinas aprovou leis que estabelecem metas para sua redução de gases de efeito estufa. Isto é apoiado por um Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, bem como pelo Programa de Recuperação da Vegetação chamado 'Programa Reconecta'.
O programa está impulsionando a cooperação entre os 20 municípios que compõem a Região Metropolitana de Campinas, estabelecendo estratégias conjuntas em relação à conservação e recuperação da fauna e flora. Tem o apoio do ICLEI América do Sul, co-presidente do Comitê de Coordenação Regional do MCR2030, através do projeto INTERACT-Bio. Em suma, Campinas desenvolveu uma rede de 190 km de ciclovias, criou 49 novos parques, introduziu mais de 300 ônibus elétricos, e está implementando um sistema integrado de alerta multiameaça. A Região Metropolitana de Campinas reconhece que a Emergência Climática e a perda de biodiversidade associada a ela representam desafios significativos para o desenvolvimento local.
Isso levou a região a tornar-se a primeira no Brasil a lançar uma estratégia colaborativa para a proteção da biodiversidade. Ela se concentra nos seguintes pilares - arborização urbana, parques lineares, corredores ecológicos, vida selvagem, regulamentação, inspeção e compensação, articulação e comunicação. O plano envolve 80 diferentes atores de vários setores e coloca a biodiversidade e ecossistemas saudáveis no centro do desenvolvimento regional e local. Os ecossistemas recebem maior proteção no planejamento territorial e as soluções baseadas na natureza são cada vez mais incorporadas às ações de desenvolvimento urbano. Através do INTERACT-Bio, Campinas está melhorando o uso e a gestão dos recursos naturais na própria cidade e na região circundante com a ajuda do mapeamento do "nível de estresse" dos ecossistemas locais.
Como parte do Projeto Comunidade Resiliente, a cidade está trabalhando para aumentar a compreensão do risco climático entre as comunidades locais, incluindo grupos de maior vulnerabilidade, como idosos e crianças. Ela desenvolve vários cenários de risco, cujos resultados são divulgados para a população local. Ligado a isto, Campinas também estabeleceu um programa abrangente de treinamento em clima e resiliência a desastres para funcionários e cidadãos. O projeto continua a ter muitos efeitos positivos, incluindo a manutenção da resiliência climática no topo da agenda política local.
As realizações acima são baseadas em uma abordagem de parceria para a resiliência climática. A boa colaboração com muitos setores tornou-se a norma. Por exemplo, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) apoiam a cidade para monitorar e avaliar suas ações de resiliência. A abordagem de Campinas à resiliência se estende além de suas fronteiras municipais. Ela é sustentada por uma filosofia de "quanto mais seguro seu vizinho, mais resiliente sua própria cidade". Como tal, a cidade mantém fortes laços - por exemplo, através de planos de contingência comuns - com municípios próximos no Estado de São Paulo, bem como com órgãos de nível estadual. A cidade organizou várias trocas de conhecimento que se concentram em como superou vários desafios com o objetivo de inspirar seus vizinhos a iniciar processos similares.